sábado, 30 de junho de 2007
sexta-feira, 29 de junho de 2007
lengalenga
Aqui está a casa

A Casa do João
Aqui está a casa
que fez o João.
Aqui está o saco do grão e feijão
que estava na casa
que fez o João.
Aqui está o rato
que furou o saco de grão e feijão
que estava na casa
que fez o João.
Aqui está o gato
que comeu o rato
que furou o saco de grão e feijão
que estava na casa
que fez o João.
Aqui está o cão
que mordeu o gato
que comeu o rato
que furou o saco de grão e feijão
que estava na casa
que fez o João.

O desenho Infantil
EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
ABORDAGEM DE G. H. LUQUET
O REALISMO
o melhor termo para caracterizar o desenho infantil no seu conjunto
por...
1. Motivos/ temas que trata
DESENHO= sistema de linhas cujo conjunto tem uma forma→2 finalidades diferentes:
- Proporcionar prazer pelo
aspecto visual
- Reproduzir objectos reais
- “forma de beleza”
- “forma de vida”
- desenho geométrico
- desenho figurativo
· Estranho à criança≠ insensível
· O papel principal do desenho é representar qualquer coisa
NOTA: crianças que desenham excepcionalmente figuras geométricas (em geral para imitarem) procuram imediatamente dar-lhes uma interpretação figurativa, reproduzindo-os de ai para a frente com essa significação
2. Intenção (é voluntariamente realista)
· Necessidade de
- dar aos objectos uma representação exacta
- reproduzir tudo o que impressionou a criança
☺ A PREOCUPAÇÃO REALISTA DA CRIANÇA CONTENTA-SE COM POUCO:
· consciência de ter procurado a semelhança → crença que a encontrou
· aptidão muito desenvolvida para descobrir nos seus desenhos semelhanças extremamente longínquas e imperceptíveis aos outros
☺ no entanto pode estar descontente com o seu trabalho ↔ observação atenta da realidade
☺ TENDÊNCIAS OPOSTAS AO REALISMO:
· Esquematismo: simplificação do objecto representado que se traduz numa redução do número de pormenores reproduzidos
Ü uma representação não exacta mas simbólica do objecto representado
Ü não se encontra no desenho infantil o esquematismo voluntário
· Idealismo: dar voluntariamente à representação caracteres estranhos ao objecto representado
ÜDesempenha no desenho infantil um papel muito insignificante
NOTAR BEM: a intenção realista é muitas vezes disfarçada pela imperfeição da execução. O que nos interessa não é o resultado mas a intenção expressamente enunciada pela criança
o desenho infantil não é “ réplica monótona de um tipo estereotipado”
individualizam as pessoas com o desenho de algo característico (os gestos,....)
O DESENHO INFANTIL PASSA POR 4 FASES SUCESSIVAS: CADA UMA DESSAS FASES É CARACTERIZADA POR UMA ESPÉCIE DETERMINADA DE REALISMO
PRIMEIRA FASE: O REALISMO FORTUITO
FASE PRELIMINAR AO DESENHO PROPRIAMENTE DITO (precede esta concepção de desenho)
DESENHO = um conjunto de traços cuja execução foi determinada e precedida pela intenção de representar um objecto [D1] real (quer a semelhança procurada seja ou não obtida).
É assim desde por volta dos 3 anos
1. o desenho é um traçado executado simplesmente para fazer linhas (≠ imagem)
· execução de movimentos da mão que estando munida de acessórios variados deixa num suporte (folha,...) traços visíveis que não existiam antes
são o simples efeito do consumo espontâneo de uma superabundância de energia neuromuscular
- tocar em tudo com os dedos sujos tem o mesmo efeito
· os traços produzidos involuntariamente são vistos pela criança que reconhece ser o seu autor → produto da sua actividade/ manifestação da sua personalidade/ criação
a consciência disto
- aumenta a sua auto- estima
- dá-lhe um prazer que ela procura renovar→ recomeçando os seus desenhos
mais ainda....
2. é induzida pela imitação dos adultos (pais, outros importantes, ...) → “instinto da imitação”
- imita para mostrar aos outros e a si que também é “capaz” como os outros, que tem um poder criador que iguala o das pessoas importantes
simultaneamente
3. Ao observar algumas imagens em revistas, jornais, ... reconhece o que representam
· ao observar o adulto a desenhar verifica que possui o poder de executar, não só uns traços quaisquer, mas desenhos propriamente ditos → “faculdade [D2] gráfica[D3] ”
· No entanto continua durante certo tempo a traçar simples linhas sem intenção figurada (não lhes dá interpretação)
- A criança julga não possuir a faculdade gráfica (isso é só para as pessoas importantes) e nem sequer tenta imitar o adulto, convencida de que fracassará.
Mas um dia...
4. A criança nota uma certa analogia entre alguns dos seus traçados e o objecto real
- considera-os uma representação do objecto e enuncia a interpretação que lhe dá
- a 1ª vez que verifica que produz uma imagem tem uma grande alegria “anch’io son pittore”
não perdura...
A criança é obrigada a reconhecer que só acidentalmente produz um traçado que se assemelhe com qualquer coisa → continua a desenhar sem intenção representativa
Mas...
- De tempos a tempos produzem-se de novo semelhanças acidentais → criança espera vê-las reproduzir-se (ao menos por acaso)
Então...
- Compreende que os seus desenhos podem de um modo constante parecer qualquer coisa
Por isso...
5. Criança aplica a cada desenho uma interpretação:
Determinada por:
· Semelhança do traçado (global ou apenas de certas partes)
· Influência das circunstâncias exteriores
Interpretação muito hesitante
- Pode ver no desenho as semelhança com qualquer objecto (ela está decidida a dar-lhe uma interpretação)
- Ainda não foi desenhado com intenção figurativa
6. A criança quer tornar mais semelhante a imagem que faz do objecto a que dá nome
2 momentos:
· semelhança fortuita, não produzida expressamente[D4]
(é muito rudimentar e a criança apercebe-se dessa imperfeição)
· semelhança complementar voluntária
Ainda não possui faculdade gráfica (ainda não fez desenhos precedidos e provocados pela intenção de representar um objecto determinado)
No entanto...
- A semelhança fortuita também é obra sua → criança acredita que será capaz de produzir voluntariamente tanto a 1ª como a 2ª → tenta...
- êxito da tentativa é favorecido pelas circunstâncias → “automatismo gráfico imediato[D5] ”
7. aquisição da faculdade gráfica total (mesmo com desenhos muito toscos)
↕
· intenção
· execução correspondente à intenção
· interpretação correspondente à intenção
☺ torna-se igual aos mais velhos e vangloria-se disso → anuncia o desenho que vai fazer antes de o executar ☺
a idade média de aparecimento do 1º desenho intencional é 2,5 – 3,5 A
NOTA:
· esta evolução é contínua
· cada momento da evolução liberta-se do precedente por um processo quase invisível e prolonga-se nos seguintes atenuando-se gradualmente
O REALISMO FORTUITO TRANSFORMA-SE NO REALISMO SEGUINTE POR UMA SÉRIE DE TRANSFORMAÇÕES
SEGUNDA FASE: O REALISMO FALHADO
· o desenho quer ser realista mas não chega a sê-lo
OBSTÁCULOS:
· De ordem física: a criança não sabe ainda dirigir e limitar os seus movimentos gráficos de modo a dar ao seu traçado o aspecto que queria
· De ordem psíquica: atenção infantil é limitada e descontínua
Y nos primeiros desenhos só reproduz um número muito restrito de pormenores/ elementos do objecto representado
Y desenhos incompreensíveis
Y cheios de defeitos
É que...
· A criança tem intenção de representar todos os elementos em que pensa
· Pensa numa certa ordem que corresponde ao grau de importância que lhes atribui
· Continua a acrescentar tanto quanto a sua atenção suporta
enfraquece depressa, já que se aplica simultaneamente a um duplo fim:
- pensar no que é preciso representar
- cuidar dos movimentos gráficos através dos quais se representa
No momento em que a atenção enfraquece, está terminado o desenho para a criança (por muito incompleto que esteja para o adulto)
- Ao pensar num pormenor só pensa pô-lo no seu desenho (está hipnotizada por esse pormenor) ↔ esquece os que já traçou
- Na representação sucessiva e descontinua que tem dos elementos as relações entre eles escapam-lhe: conhece-as mas não pensa nelas
· adulto poderá concluir relações falsas onde não as há.
característica essencial desta fase
INCAPACIDADE SINTÉTICA: imperfeição geral do desenho
MANIFESTAÇÕES:
1. Negligência das relações gerais/ proporções[D6] :
- as dimensões relativas dos diversos elementos não têm nenhuma correspondência com as relações dos mesmos pormenores na realidade
- razões:
· imperfeição gráfica
· impotência para interromper os traços no momento desejado
· espaço disponível do papel faz encurtar certos traços por falta de espaço
· alonga os traços por “horror ao vazio”
· exagero das dimensões é, por vezes, a tradução inconsciente da importância que a criança lhe dá
· cada elemento é desenhado por ele mesmo: no momento em que o executa a criança não pensa mais nos que já traçou
nas relações de situação...
2. Negligência das relações de tangência[D7] :
- Elementos que na realidade são tangentes aparecem representados disjuntos
3. Negligência das relações de inclusão[D8]
4. Negligência das relações topográficas [D9] (relações mais especiais entre os elementos de um mesmo objecto)
5. Negligência da orientação[D10]
- Certos pormenores recebem uma orientação diferente da do resto, sem que a criança se choque com isso
A incapacidade sintética da criança atenua-se gradualmente na medida em que a atenção da criança se torna menos descontínua: pensar no pormenor que desenha e ao mesmo tempo nos que já estão representados – sentir e fazer as suas relações
NOTA:
as gradações são quase insensíveis e há períodos de estagnação e mesmo regressão
TERCEIRA FASE: O REALISMO INTELECTUAL
Pode acontecer...
§ elementos concretos invisíveis
§ reprodução dos elementos abstractos que só existem no espírito do observador
§ Os bonecos têm certas partes do rosto que na realidade não são separadas, limitadas por um contorno
§ Preocupação com as legendas: a criança utiliza-as também para desenhos cuja interpretação é perfeitamente compreensível
Razões para a sua utilização:
· Vê-as nos livros de estudo, outras imagens
· O nome do objecto é para a criança uma das suas características essenciais, devendo fazer parte do desenho
· Nesta fase há o emprego de PROCESSOS variados:
· A criança inventa espontaneamente os seus processos
· A escolha que faz de um ou outro é orientada pelo princípio do realismo intelectual:
èpôr em evidência o maior número (senão a totalidade) dos elementos essenciais do objecto representado, deixando a cada um a sua forma característica
1. Destacamento[D11]
· destacar um do outro os pormenores de um desenho que na realidade se confundem e se ocultam (+/-) á estabelecer entre eles uma descontinuidade (por vezes difícil de distinguir da resultante da incapacidade sintética)
2. Transparência[D12]
· evidencia os elementos invisíveis de um objecto á representando-os como se aqueles que os ocultam se tornassem transparentes, permitindo vê-los
3. Planificação[D13]
· Representar o objecto em projecção no solo, como se fosse visto em linha recta[D14]
· O objecto é representado de um ponto de vista desusado mas possível (e em certos casos mesmo real)
4. Rebatimento[D15]
· Aplicado sobretudo aos “suportes dos objectos” (pés de animais, rodas)
· Rebatê-los de cada lado do corpo como se lhe estivessem unidos por um eixo, à volta do qual se poderia fazê -los girar
☺ Mudança do ponto de vista á processo constante em que a criança recorre a todos os processos simultaneamente no mesmo desenho
· Extensão da exemplaridade
t
· depois de ter representado o conjunto de um objecto do ponto de vista em que oferece o aspecto mais característico e faz sobressair o maior número dos seus elementos essenciais...
· a criança escolhe o ponto de vista que apresenta a sua forma exemplar, para desenhar cada um dos outros pormenores
exemplos...
· combinação do rebatimento com o plano
· na representação dos seres vivos
nesta fase há então a combinação de ...
· intenção realista
· sentido sintético (à primeira vista ausente) á se em vez de se ditar leis à criança desenhadora, se procurar compreender a razão das que são impostas por ela a si mesma, compreende-se que elas correspondem a uma atitude sintética
Õ visam reunir num único desenho os elementos que são igualmente reunidos no objecto que representa.
QUARTA FASE: REALISMO VISUAL
Característico do desenho adulto
no realismo intelectual, há a tradução...
relação
· cada um dos seus elementos
· objecto considerado no seu conjunto (como suporte comum)
(traz ao desenho contradiç ões com experiência)
mas o desenho plenamente realista, traduz...
relações mudam segundo o ponto de vista
· cada um dos seus elementos
· todos os outros
☺ experiências repetidas á verificação da insuficiência do realismo intelectual á condenado como modo de representação gráfica
( as declarações verbais da criança confirmam a opção pelo realismo visual
intelectual á visual: substituição dá-se entre os 8- 9 anos
t
diferenças individuais
☺ desaparecimento gradual dos processos do realismo intelectual
transparência áopacidade
rebatimento/ mudança do ponto de vista áperspectiva
☺ provoca o abandono da exemplaridade
☺ luta contra os hábitos contrários profundamente enraizados:
· o realismo intelectual reaparece em desenhos posteriores a outros em que se manifesta o realismo visual
· num mesmo desenho há partes de um e partes de outro
· desenhos em que o realismo intelectual é eliminado, mas o realismo visual não é conseguido e há aplicação de uma perspectiva falsa
a que é aplicada nesta altura
§ só pode ser conseguida através de recordações visuais, por vezes longínquas de objectos representados ou análogos, que não conseguem imediatamente uma síntese coerente
observa-se isto:
· desenhos de casas[D16]
· representação do telhado
☺ os erros de perspectiva só são corrigidos pela prática do desenho natural
· nas pessoas sem cultura gráfica especial, persistem para além da idade infantil
· alguns adultos não ultrapassam o realismo intelectual
o fim da evolução do desenho é marcado pela renúncia ao realismo intelectual, pelo firme propósito de se conformar com a representação da aparência visual
(ainda que haja obstáculos para a realização plena desta intenção)
ABORDAGEM DE WIDLOCHER (1965)
Este desenvolvimento vai ser paralelo ao cognitivo, motor, perceptivo
☺ Início da expressão gráfica – antes de 1 A
- Manchas e traços
- Agua e materiais pastosos (areia, iogurte)
- Basta ter objecto marcador e objecto que o receba
- Prazer
- Relação causa- efeito (de causalidade) entre o seu gesto e o traço (resultado produzido)
- Os adultos podem inibir: ”só estas a fazer porcaria”
· Fase da garatuja Örealismo fortuito (Luquet)– 1-4 A
- Controlo progressivo da actividade motora
- Ela risca e fura por prazer
- Não tem intenção representativa
- 1º momento – 1 - 1,5/ 2 A
- 1º gesto gráfico é oscilante Ö movimentos de flexão – inflexão
- deixa que o movimento se prolongue
- movimento de retorno dá-se quando a posição do braço se torna incómoda ou se chega ao limite do papel (por vezes ultrapassado)
- a criança não controla o ponto de partida nem o ponto de chegada
- 2º momento - 2 – 3/4 A
- novas aquisições:
1. traço vertical (1º) e traço horizontal (2º)
2. controlo do polegar
3. controlo do ponto de partida (1º) e do ponto de chegada
4. substituição das grandes linhas e ovóides por traços mais pequenos
5. retorno ao ponto de partida
6. controlo da velocidade de gesto
7. limitação da amplitude do gesto
- 1º controlo olho – mão/ controlo simples/ controlo do ponto de partida – 3º A
· olho não segue a mão mas guia-a
· o olho indica o ponto de partida
- 2º controlo olho – mão/ controlo do ponto de partida e do ponto de chegada
· traço é guiado de um determinado ponto para outro determinado ponto
☺ Começo da intenção representativa – 3/ 4 A
- Biologicamente preparada para o desenho figurativo/ representativo
- Aparecimento brusco
- +/- precoce
- “garatuja com nome[D17] ”
- está ligada às disposições subjectivas não a dados objectivos da forma
- aprendizagem progressiva de imagens cada vez mais complexas[D18]
- a criança vai corrigir o desenho para torna-lo mais semelhante ao objecto
- vai Ter “intencionalidade figurativa”
· Fase do realismo infantil ou intelectual – 4 – 7/8 A
- Desenha o modelo interno do objecto (o que a criança tem na cabeça) e não o que vê/ percepção
- Preocupação principal: dar significado à realidade externa
· Procedimentos (contrariam o realismo perceptivo/ visual)
· Transparência
· Rebatimento
· Planificação
· Mudança de ponto de vista
· Detalhe exemplar
- A visão da criança é subjectiva e egocêntrica
- A atenção e limitada e descontínua
· Fase do realismo visual – 7/9 – 12 A
- Correcção gradual dos erros das fase anterior
- Submissão à perspectiva que se tem do objecto
- Evolução da atenção
- Aos 9/10 A é evidente a necessidade da criança ser realista e precisa
[D1]Intenção de desenhar um objecto --------execução de um conjunto de traços com uma forma= desenho
[D2]poder de executar desenhos propriamente ditos, não apenas traços -----o desenho é precedido e provocado pela intenção de representar essa “qualquer coisa”
[D3]alguns adultos não a possuem, mesmo pintores
[D4]involuntária
[D5]ao desenhar um objecto premeditado, normalmente a criança acaba por desenhar o mesmo objecto que acaba de representar sem ser expressamente ao
[D6]: cabelos mais compridos que as pernas; moinho de café 3x maior que a criança
[D7]: guarda chuva ao lado do corpo; cachimbo fora da boca
[D8]: olhos fora da cara; botões fora do corpo; porta e janela fora da casa
[D9]: dedos não estão na ponta do braço, mas ao longo do braço tipo ramo de folhas; para representar pessoas sentadas numa cadeira, desenha-as de pé em sobreposição com a cadeira: o assento atravessa-lhe o rosto
[D10]: bonecos dentro de uma casa de cabeça para baixo; ponta do telhado virada para o chão
[D11]fios de cabelo desenhados individualmente; chapéu tangente ou no ar à cabeça; rodas do combóio não tocam nos carris
[D12]vêem-se dedos no interior dos sapatos; vê-se a cabeça debaixo do chapéu; vêem-se moveis e pessoas dentro de uma casa
[D13]quando os objectos são vistos de cima
[D14]espalma-se o objecto e vê-se de cima
[D15]ver figuras das paginas 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178
[D16]desenho de casa com 3 lados
[D17]fui eu que inventei este nome para mostrar que em termos de perfeição nesta fase o desenho não se distingue da garatuja. A diferença é que agora a criança chama-lhe “cão” ou “pato”
[D18]percebe que todas as mesas são “mesas”, começa a perceber para que é que serve
EVOLUÇÃO DO DESENHO INFANTIL
ABORDAGEM DE G. H. LUQUET
O REALISMO
o melhor termo para caracterizar o desenho infantil no seu conjunto
por...
1. Motivos/ temas que trata
DESENHO= sistema de linhas cujo conjunto tem uma forma→2 finalidades diferentes:
- Proporcionar prazer pelo
aspecto visual
- Reproduzir objectos reais
- “forma de beleza”
- “forma de vida”
- desenho geométrico
- desenho figurativo
· Estranho à criança≠ insensível
· O papel principal do desenho é representar qualquer coisa
NOTA: crianças que desenham excepcionalmente figuras geométricas (em geral para imitarem) procuram imediatamente dar-lhes uma interpretação figurativa, reproduzindo-os de ai para a frente com essa significação
2. Intenção (é voluntariamente realista)
· Necessidade de
- dar aos objectos uma representação exacta
- reproduzir tudo o que impressionou a criança
☺ A PREOCUPAÇÃO REALISTA DA CRIANÇA CONTENTA-SE COM POUCO:
· consciência de ter procurado a semelhança → crença que a encontrou
· aptidão muito desenvolvida para descobrir nos seus desenhos semelhanças extremamente longínquas e imperceptíveis aos outros
☺ no entanto pode estar descontente com o seu trabalho ↔ observação atenta da realidade
☺ TENDÊNCIAS OPOSTAS AO REALISMO:
· Esquematismo: simplificação do objecto representado que se traduz numa redução do número de pormenores reproduzidos
Ü uma representação não exacta mas simbólica do objecto representado
Ü não se encontra no desenho infantil o esquematismo voluntário
· Idealismo: dar voluntariamente à representação caracteres estranhos ao objecto representado
ÜDesempenha no desenho infantil um papel muito insignificante
NOTAR BEM: a intenção realista é muitas vezes disfarçada pela imperfeição da execução. O que nos interessa não é o resultado mas a intenção expressamente enunciada pela criança
o desenho infantil não é “ réplica monótona de um tipo estereotipado”
individualizam as pessoas com o desenho de algo característico (os gestos,....)
O DESENHO INFANTIL PASSA POR 4 FASES SUCESSIVAS: CADA UMA DESSAS FASES É CARACTERIZADA POR UMA ESPÉCIE DETERMINADA DE REALISMO
PRIMEIRA FASE: O REALISMO FORTUITO
FASE PRELIMINAR AO DESENHO PROPRIAMENTE DITO (precede esta concepção de desenho)
DESENHO = um conjunto de traços cuja execução foi determinada e precedida pela intenção de representar um objecto [D1] real (quer a semelhança procurada seja ou não obtida).
É assim desde por volta dos 3 anos
1. o desenho é um traçado executado simplesmente para fazer linhas (≠ imagem)
· execução de movimentos da mão que estando munida de acessórios variados deixa num suporte (folha,...) traços visíveis que não existiam antes
são o simples efeito do consumo espontâneo de uma superabundância de energia neuromuscular
- tocar em tudo com os dedos sujos tem o mesmo efeito
· os traços produzidos involuntariamente são vistos pela criança que reconhece ser o seu autor → produto da sua actividade/ manifestação da sua personalidade/ criação
a consciência disto
- aumenta a sua auto- estima
- dá-lhe um prazer que ela procura renovar→ recomeçando os seus desenhos
mais ainda....
2. é induzida pela imitação dos adultos (pais, outros importantes, ...) → “instinto da imitação”
- imita para mostrar aos outros e a si que também é “capaz” como os outros, que tem um poder criador que iguala o das pessoas importantes
simultaneamente
3. Ao observar algumas imagens em revistas, jornais, ... reconhece o que representam
· ao observar o adulto a desenhar verifica que possui o poder de executar, não só uns traços quaisquer, mas desenhos propriamente ditos → “faculdade [D2] gráfica[D3] ”
· No entanto continua durante certo tempo a traçar simples linhas sem intenção figurada (não lhes dá interpretação)
- A criança julga não possuir a faculdade gráfica (isso é só para as pessoas importantes) e nem sequer tenta imitar o adulto, convencida de que fracassará.
Mas um dia...
4. A criança nota uma certa analogia entre alguns dos seus traçados e o objecto real
- considera-os uma representação do objecto e enuncia a interpretação que lhe dá
- a 1ª vez que verifica que produz uma imagem tem uma grande alegria “anch’io son pittore”
não perdura...
A criança é obrigada a reconhecer que só acidentalmente produz um traçado que se assemelhe com qualquer coisa → continua a desenhar sem intenção representativa
Mas...
- De tempos a tempos produzem-se de novo semelhanças acidentais → criança espera vê-las reproduzir-se (ao menos por acaso)
Então...
- Compreende que os seus desenhos podem de um modo constante parecer qualquer coisa
Por isso...
5. Criança aplica a cada desenho uma interpretação:
Determinada por:
· Semelhança do traçado (global ou apenas de certas partes)
· Influência das circunstâncias exteriores
Interpretação muito hesitante
- Pode ver no desenho as semelhança com qualquer objecto (ela está decidida a dar-lhe uma interpretação)
- Ainda não foi desenhado com intenção figurativa
6. A criança quer tornar mais semelhante a imagem que faz do objecto a que dá nome
2 momentos:
· semelhança fortuita, não produzida expressamente[D4]
(é muito rudimentar e a criança apercebe-se dessa imperfeição)
· semelhança complementar voluntária
Ainda não possui faculdade gráfica (ainda não fez desenhos precedidos e provocados pela intenção de representar um objecto determinado)
No entanto...
- A semelhança fortuita também é obra sua → criança acredita que será capaz de produzir voluntariamente tanto a 1ª como a 2ª → tenta...
- êxito da tentativa é favorecido pelas circunstâncias → “automatismo gráfico imediato[D5] ”
7. aquisição da faculdade gráfica total (mesmo com desenhos muito toscos)
↕
· intenção
· execução correspondente à intenção
· interpretação correspondente à intenção
☺ torna-se igual aos mais velhos e vangloria-se disso → anuncia o desenho que vai fazer antes de o executar ☺
a idade média de aparecimento do 1º desenho intencional é 2,5 – 3,5 A
NOTA:
· esta evolução é contínua
· cada momento da evolução liberta-se do precedente por um processo quase invisível e prolonga-se nos seguintes atenuando-se gradualmente
O REALISMO FORTUITO TRANSFORMA-SE NO REALISMO SEGUINTE POR UMA SÉRIE DE TRANSFORMAÇÕES
SEGUNDA FASE: O REALISMO FALHADO
· o desenho quer ser realista mas não chega a sê-lo
OBSTÁCULOS:
· De ordem física: a criança não sabe ainda dirigir e limitar os seus movimentos gráficos de modo a dar ao seu traçado o aspecto que queria
· De ordem psíquica: atenção infantil é limitada e descontínua
Y nos primeiros desenhos só reproduz um número muito restrito de pormenores/ elementos do objecto representado
Y desenhos incompreensíveis
Y cheios de defeitos
É que...
· A criança tem intenção de representar todos os elementos em que pensa
· Pensa numa certa ordem que corresponde ao grau de importância que lhes atribui
· Continua a acrescentar tanto quanto a sua atenção suporta
enfraquece depressa, já que se aplica simultaneamente a um duplo fim:
- pensar no que é preciso representar
- cuidar dos movimentos gráficos através dos quais se representa
No momento em que a atenção enfraquece, está terminado o desenho para a criança (por muito incompleto que esteja para o adulto)
- Ao pensar num pormenor só pensa pô-lo no seu desenho (está hipnotizada por esse pormenor) ↔ esquece os que já traçou
- Na representação sucessiva e descontinua que tem dos elementos as relações entre eles escapam-lhe: conhece-as mas não pensa nelas
· adulto poderá concluir relações falsas onde não as há.
característica essencial desta fase
INCAPACIDADE SINTÉTICA: imperfeição geral do desenho
MANIFESTAÇÕES:
1. Negligência das relações gerais/ proporções[D6] :
- as dimensões relativas dos diversos elementos não têm nenhuma correspondência com as relações dos mesmos pormenores na realidade
- razões:
· imperfeição gráfica
· impotência para interromper os traços no momento desejado
· espaço disponível do papel faz encurtar certos traços por falta de espaço
· alonga os traços por “horror ao vazio”
· exagero das dimensões é, por vezes, a tradução inconsciente da importância que a criança lhe dá
· cada elemento é desenhado por ele mesmo: no momento em que o executa a criança não pensa mais nos que já traçou
nas relações de situação...
2. Negligência das relações de tangência[D7] :
- Elementos que na realidade são tangentes aparecem representados disjuntos
3. Negligência das relações de inclusão[D8]
4. Negligência das relações topográficas [D9] (relações mais especiais entre os elementos de um mesmo objecto)
5. Negligência da orientação[D10]
- Certos pormenores recebem uma orientação diferente da do resto, sem que a criança se choque com isso
A incapacidade sintética da criança atenua-se gradualmente na medida em que a atenção da criança se torna menos descontínua: pensar no pormenor que desenha e ao mesmo tempo nos que já estão representados – sentir e fazer as suas relações
NOTA:
as gradações são quase insensíveis e há períodos de estagnação e mesmo regressão
TERCEIRA FASE: O REALISMO INTELECTUAL
Pode acontecer...
§ elementos concretos invisíveis
§ reprodução dos elementos abstractos que só existem no espírito do observador
§ Os bonecos têm certas partes do rosto que na realidade não são separadas, limitadas por um contorno
§ Preocupação com as legendas: a criança utiliza-as também para desenhos cuja interpretação é perfeitamente compreensível
Razões para a sua utilização:
· Vê-as nos livros de estudo, outras imagens
· O nome do objecto é para a criança uma das suas características essenciais, devendo fazer parte do desenho
· Nesta fase há o emprego de PROCESSOS variados:
· A criança inventa espontaneamente os seus processos
· A escolha que faz de um ou outro é orientada pelo princípio do realismo intelectual:
èpôr em evidência o maior número (senão a totalidade) dos elementos essenciais do objecto representado, deixando a cada um a sua forma característica
1. Destacamento[D11]
· destacar um do outro os pormenores de um desenho que na realidade se confundem e se ocultam (+/-) á estabelecer entre eles uma descontinuidade (por vezes difícil de distinguir da resultante da incapacidade sintética)
2. Transparência[D12]
· evidencia os elementos invisíveis de um objecto á representando-os como se aqueles que os ocultam se tornassem transparentes, permitindo vê-los
3. Planificação[D13]
· Representar o objecto em projecção no solo, como se fosse visto em linha recta[D14]
· O objecto é representado de um ponto de vista desusado mas possível (e em certos casos mesmo real)
4. Rebatimento[D15]
· Aplicado sobretudo aos “suportes dos objectos” (pés de animais, rodas)
· Rebatê-los de cada lado do corpo como se lhe estivessem unidos por um eixo, à volta do qual se poderia fazê -los girar
☺ Mudança do ponto de vista á processo constante em que a criança recorre a todos os processos simultaneamente no mesmo desenho
· Extensão da exemplaridade
t
· depois de ter representado o conjunto de um objecto do ponto de vista em que oferece o aspecto mais característico e faz sobressair o maior número dos seus elementos essenciais...
· a criança escolhe o ponto de vista que apresenta a sua forma exemplar, para desenhar cada um dos outros pormenores
exemplos...
· combinação do rebatimento com o plano
· na representação dos seres vivos
nesta fase há então a combinação de ...
· intenção realista
· sentido sintético (à primeira vista ausente) á se em vez de se ditar leis à criança desenhadora, se procurar compreender a razão das que são impostas por ela a si mesma, compreende-se que elas correspondem a uma atitude sintética
Õ visam reunir num único desenho os elementos que são igualmente reunidos no objecto que representa.
QUARTA FASE: REALISMO VISUAL
Característico do desenho adulto
no realismo intelectual, há a tradução...
relação
· cada um dos seus elementos
· objecto considerado no seu conjunto (como suporte comum)
(traz ao desenho contradiç ões com experiência)
mas o desenho plenamente realista, traduz...
relações mudam segundo o ponto de vista
· cada um dos seus elementos
· todos os outros
☺ experiências repetidas á verificação da insuficiência do realismo intelectual á condenado como modo de representação gráfica
( as declarações verbais da criança confirmam a opção pelo realismo visual
intelectual á visual: substituição dá-se entre os 8- 9 anos
t
diferenças individuais
☺ desaparecimento gradual dos processos do realismo intelectual
transparência áopacidade
rebatimento/ mudança do ponto de vista áperspectiva
☺ provoca o abandono da exemplaridade
☺ luta contra os hábitos contrários profundamente enraizados:
· o realismo intelectual reaparece em desenhos posteriores a outros em que se manifesta o realismo visual
· num mesmo desenho há partes de um e partes de outro
· desenhos em que o realismo intelectual é eliminado, mas o realismo visual não é conseguido e há aplicação de uma perspectiva falsa
a que é aplicada nesta altura
§ só pode ser conseguida através de recordações visuais, por vezes longínquas de objectos representados ou análogos, que não conseguem imediatamente uma síntese coerente
observa-se isto:
· desenhos de casas[D16]
· representação do telhado
☺ os erros de perspectiva só são corrigidos pela prática do desenho natural
· nas pessoas sem cultura gráfica especial, persistem para além da idade infantil
· alguns adultos não ultrapassam o realismo intelectual
o fim da evolução do desenho é marcado pela renúncia ao realismo intelectual, pelo firme propósito de se conformar com a representação da aparência visual
(ainda que haja obstáculos para a realização plena desta intenção)
ABORDAGEM DE WIDLOCHER (1965)
Este desenvolvimento vai ser paralelo ao cognitivo, motor, perceptivo
☺ Início da expressão gráfica – antes de 1 A
- Manchas e traços
- Agua e materiais pastosos (areia, iogurte)
- Basta ter objecto marcador e objecto que o receba
- Prazer
- Relação causa- efeito (de causalidade) entre o seu gesto e o traço (resultado produzido)
- Os adultos podem inibir: ”só estas a fazer porcaria”
· Fase da garatuja Örealismo fortuito (Luquet)– 1-4 A
- Controlo progressivo da actividade motora
- Ela risca e fura por prazer
- Não tem intenção representativa
- 1º momento – 1 - 1,5/ 2 A
- 1º gesto gráfico é oscilante Ö movimentos de flexão – inflexão
- deixa que o movimento se prolongue
- movimento de retorno dá-se quando a posição do braço se torna incómoda ou se chega ao limite do papel (por vezes ultrapassado)
- a criança não controla o ponto de partida nem o ponto de chegada
- 2º momento - 2 – 3/4 A
- novas aquisições:
1. traço vertical (1º) e traço horizontal (2º)
2. controlo do polegar
3. controlo do ponto de partida (1º) e do ponto de chegada
4. substituição das grandes linhas e ovóides por traços mais pequenos
5. retorno ao ponto de partida
6. controlo da velocidade de gesto
7. limitação da amplitude do gesto
- 1º controlo olho – mão/ controlo simples/ controlo do ponto de partida – 3º A
· olho não segue a mão mas guia-a
· o olho indica o ponto de partida
- 2º controlo olho – mão/ controlo do ponto de partida e do ponto de chegada
· traço é guiado de um determinado ponto para outro determinado ponto
☺ Começo da intenção representativa – 3/ 4 A
- Biologicamente preparada para o desenho figurativo/ representativo
- Aparecimento brusco
- +/- precoce
- “garatuja com nome[D17] ”
- está ligada às disposições subjectivas não a dados objectivos da forma
- aprendizagem progressiva de imagens cada vez mais complexas[D18]
- a criança vai corrigir o desenho para torna-lo mais semelhante ao objecto
- vai Ter “intencionalidade figurativa”
· Fase do realismo infantil ou intelectual – 4 – 7/8 A
- Desenha o modelo interno do objecto (o que a criança tem na cabeça) e não o que vê/ percepção
- Preocupação principal: dar significado à realidade externa
· Procedimentos (contrariam o realismo perceptivo/ visual)
· Transparência
· Rebatimento
· Planificação
· Mudança de ponto de vista
· Detalhe exemplar
- A visão da criança é subjectiva e egocêntrica
- A atenção e limitada e descontínua
· Fase do realismo visual – 7/9 – 12 A
- Correcção gradual dos erros das fase anterior
- Submissão à perspectiva que se tem do objecto
- Evolução da atenção
- Aos 9/10 A é evidente a necessidade da criança ser realista e precisa
[D1]Intenção de desenhar um objecto --------execução de um conjunto de traços com uma forma= desenho
[D2]poder de executar desenhos propriamente ditos, não apenas traços -----o desenho é precedido e provocado pela intenção de representar essa “qualquer coisa”
[D3]alguns adultos não a possuem, mesmo pintores
[D4]involuntária
[D5]ao desenhar um objecto premeditado, normalmente a criança acaba por desenhar o mesmo objecto que acaba de representar sem ser expressamente ao
[D6]: cabelos mais compridos que as pernas; moinho de café 3x maior que a criança
[D7]: guarda chuva ao lado do corpo; cachimbo fora da boca
[D8]: olhos fora da cara; botões fora do corpo; porta e janela fora da casa
[D9]: dedos não estão na ponta do braço, mas ao longo do braço tipo ramo de folhas; para representar pessoas sentadas numa cadeira, desenha-as de pé em sobreposição com a cadeira: o assento atravessa-lhe o rosto
[D10]: bonecos dentro de uma casa de cabeça para baixo; ponta do telhado virada para o chão
[D11]fios de cabelo desenhados individualmente; chapéu tangente ou no ar à cabeça; rodas do combóio não tocam nos carris
[D12]vêem-se dedos no interior dos sapatos; vê-se a cabeça debaixo do chapéu; vêem-se moveis e pessoas dentro de uma casa
[D13]quando os objectos são vistos de cima
[D14]espalma-se o objecto e vê-se de cima
[D15]ver figuras das paginas 172, 173, 174, 175, 176, 177, 178
[D16]desenho de casa com 3 lados
[D17]fui eu que inventei este nome para mostrar que em termos de perfeição nesta fase o desenho não se distingue da garatuja. A diferença é que agora a criança chama-lhe “cão” ou “pato”
[D18]percebe que todas as mesas são “mesas”, começa a perceber para que é que serve
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